Ana Isabel Fazendeiro, Graciete Costa, Natália Couceiro, Paula Rodrigues, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Anticorpos anti - mitocondriais

As mitocôndrias são pequenos organelos, com morfologia granular ou filamentosa, presentes no citoplasma das células eucariotas. Limitadas por duas membranas fosfolipídicas, as mitocôndrias contêm muitas enzimas, envolvidas na produção de energia.
Os anticorpos anti-mitocondriais (AMA) foram descritos pela primeira vez em pacientes com história de cirrose biliar primária (CBP) há mais de quarenta anos. Estes autoanticorpos são considerados os marcadores imunológicos mais sensíveis e específicos da doença, sendo a sua detecção praticamente diagnóstica, mesmo na ausência de sintomas e com fosfatase alcalina sérica normal (40% terão alterações histopatológicas hepáticas e, os restantes, terão maior probabilidade de desenvolver a doença nos próximos anos).
A reactividade dos AMA permitiu reconhecer nove antigénios mitocondriais (M1 a M9). Na CBP podem ocorrer anticorpos anti – M2, M4, M8 e M9; apenas os anticorpos anti – M2 são considerados específicos da doença:
·        AMA – M2 (anticorpos anti – complexo piruvato desidrogenase), que se encontram na maioria dos pacientes com AMA
·        AMA – M2-3E (anticorpos anti - subunidades E2 das alfa-2-oxoácido desidrogenases, localizadas na membrana mitocondrial interna)

A imunofluorescência indirecta (IFI) permite observar um padrão clássico de fluorescência, com marcação intensa no citoplasma das células ricas em mitocôndrias. Classicamente, utilizam-se como substrato, cortes de rim, estômago e fígado de rato e/ou células Hep2.


Células Hep2

      Células Hep2
 1 - Núcleo
    2 - Nucléolo
       3 - Citoplasma
4 - Mitose



Células Hep2 - Anticorpos anti - mitocondriais (M2)
Citoplasma  - padrão granular médio disperso

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)


Tecidos (Estômago/Rim/Fígado)

Os anticorpos anti - mitocondriais originam padrões de fluorescência característicos, consequência da maior ou menor presença de mitocôndrias nas células.

Estômago

    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático    granular, de distribuição uniforme.

Rim
Rim - Córtex renal. Observa-se o glomérulo renal (posição central) e, em volta, os túbulos renais.

    Rim (x100) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência granular no citoplasma das células dos túbulos renais, mais intensa nos túbulos contornados distais.

    Rim (x630) - anticorpos anti - mitocondriais (túbulos renais)

    Rim (x630) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência pouco intensa no glomérulo renal, contrastando com a fluorescência granular das células dos túbulos renais


Fígado
    Fígado (x630) - Veia centrolobular. Observa-se, à volta da veia, os cordões de hepatócitos.

  Fígado (x100) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência no citoplasma dos hepatócitos

    Fígado (x400) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se uma fluorescência granular no citoplasma dos hepatócitos

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Anticorpos anti - Actina

A Actina é uma proteína de forma globular que compõe os microfilamentos (um dos três componentes principais do citoesqueleto das células eucariotas). Os microfilamentos conferem uma estrutura e forma à célula, sendo a sua formação um processo dinâmico que permite uma adaptação rápida às alterações do ambiente, nomeadamente através do aumento da superfície de absorção da célula ou fornecendo suporte para a sua adesão na formação de tecidos.

A actina encontra-se como monómeros livres, designados por actina G, ou como parte de polímeros lineares denominados actina F, essenciais em funções celulares como a mobilidade e contração durante a divisão celular.
Existem diversas isoformas de actina (consequência de alterações na sequência de aminoácidos constituintes), com distribuição distinta nos diversos tipos de tecido muscular e nas células não musculares:
  • isoforma α1 - músculo esquelético
  • isoforma α2 - músculo cardíaco
  • isoforma ß - músculo liso
  • isoforma γ - células não musculares
Na camada muscular dos vasos sanguíneos, existem as isoformas α e ß de actina.

Os anticorpos anti-músculo liso, com especificidade anti F-actina, são considerados marcadores de Hepatite Auto Imune Tipo I.
A pesquisa destes anticorpos é efectuada em cortes de estômago, rim e fígado de rato, sendo a diluição inicial do soro de 1:20
Quando presentes, originam aspectos de imunofluorescência característicos:

Estômago 


Estrutura histológica do estômago:
1 - Mucosa
2 - Muscularis mucosae
3 - Submucosa
4 - Camada muscular
5 - Projecções da muscularis na mucosa

Estômago (anticorpos anti - músculo liso) – fluorescência intensa da muscularis mucosae , das fibras da lâmina própria e da camada muscular.

Rim 


Estrutura histológica do córtex renal:
1 - Glomérulo renal
2 - Vasos sanguíneos
3 - Túbulos renais

Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência nos glomérulos renais e vasos sanguíneos. Fluorescência muito característica do espaço péritubular (aspecto em espinhos). 



Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência no glomérulo renal (G). Fluorescência muito característica do espaço peritubular  (aspecto em espinhos). Observam-se, além do glomérulo, os túbulos renais (T).



Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência  peritubular  (aspecto em espinhos), assinalada pelas setas. Observa-se ainda fluorescência dos núcleos.

Fígado


Fígado - aspecto histológico. Observa-se a veia centrolobular, os cordóes de hepatócitos e, no lado esquerdo da imagem (em baixo), parte de um espaço porta.


Fígado - pormenor da veia centrolobular



Fígado (Espaço porta) - pequena ampliação
A - artéria
C - canal
V - veia

Fígado (anticorpos anti - músculo liso) – fluorescência intensa dos vasos do espaço porta, e da membrana dos hepatócitos (este último aspecto depende do título de anticorpos).



Nos três tecidos, sempre que existam anticorpos anti - músculo liso, também é característica a fluorescência da túnica média (muscular) dos vasos sanguíneos.


Vaso sanguíneo (artéria) com fluorescência na túnica média (muscular). Observa-se ainda a túnica intíma (endotélio) e a limitante elástica interna (linha escura ondulada, assinalada pela seta)




A identificação dos anticorpos anti - músculo liso (especificidade anti - F actina) por imunofluorescência é efectuada em células Hep2 ou células de aorta de rato (VCM47®). Os filamentos de actina são longos e rectilíneos, estendendo-se de um extremo ao outro da célula, passando sobre o núcleo.




Anticorpos anti - músculo liso (especificidade F - actina) - imagens de células de aorta de rato (VCM47®)



sexta-feira, 13 de julho de 2012

A presença de anticorpos anti - dsDNA (IgG) no sangue é critério de diagnóstico de lúpus eritematoso, podendo preceder o início do quadro clínico. O valor diagnóstico é particularmente importante quando os anticorpos IgG são de alta avidez (específicos). Foram descritos casos com anticorpos de baixa avidez, em concentrações baixas, noutras patologias (inespecíficos para o lúpus). Nos pacientes com artrite reumatóide tratados com terapêutica anti - TNF, também podem ocorrer estes auto - anticorpos (desaparecendo com a interrupção da terapêutica).
No lúpus, a concentração varia com o grau de actividade da doença, aumentando frequentemente com o processo inflamatório e diminuindo com a terapêutica eficaz.
As imunoglobulinas IgG atravessam a placenta, causando quadros de lúpus neonatal.

Os métodos laboratoriais utilizados para o seu doseamento são, por ordem de especificidade e de sensibilidade:
  • método Farr (RIA)
  • imunofluorescência indirecta (IFI), utilizando Crithidia luciliae como substrato
  • imunoensaio enzimático (ELISA)
  • quimioluminescência (CLIA)
  • fluorimunoensaio (ELIA)
Imunofuorescência indirecta - a Crithidia luciliae é um flagelado, com um cinetoplasto constituído por ADN em dupla cadeia circular, não ligado a proteínas. Este método é sensível e muito específico, particularmente para os auto-anticorpos de avidez moderada a alta.
A diluição inicial do soro é de 1:10.




A interpretação da IFI com Crithidia lucilae é a seguinte:



Negativo - ausência de fluorescência no cinetoplasto


Crithidia (IFI) - Ausência de fluorescência no cinetoplasto (diluição 1:10)




Positivo - fluorescência no cinetoplasto


1 - Corpo basal
2 - Cinetoplasto
(diluição 1:10)