Ana Isabel Fazendeiro, Graciete Costa, Natália Couceiro, Paula Rodrigues, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

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terça-feira, 11 de junho de 2013

Anticorpos anti - Centríolo


O centrossoma é uma região celular localizada perto do invólucro nuclear, que desempenha um papel relevante na organização do citoesqueleto durante a interfase e dos pólos do fuso mitótico durante a divisão celular, após replicação do centrossoma. É composto por um material amorfo e electrodenso, identificando-se, na sua parte central, um par de estruturas cilíndricas com disposição perpendicular, designadas por centríolos.

Estrututalmente, o centríolo é constituído por um conjunto de nove subunidades de três microtúbulos combinados, permanecendo cada grupo ligado longitudinalmente ao adjacente. Estes nove grupos formam a "parede" da estrutura, como hélices de uma turbina.

Quando presentes, os anticorpos anti - centríolo podem identificar-se por imunofluorescência indirecta (IFI), utilizando como substrato células Hep2. O padrão de fluorescência é característico, com observação de uma ou duas estruturas punctiformes fluorescentes, adjacentes à membrana nuclear (células em interfase) e de uma estrutura punctiforme fluorescente em cada pólo do fuso mitótico (célula em metafase).
Estes autoanticorpos são pouco frequentes e de identificação casual, representando aproximadamente 0,1% do total de autoanticorpos identificados na rotina laboratorial.
Ligam-se a proteínas do centrossoma, incluindo a enolase.
Aparecem associados com:
   - fenómeno de Raynaud secundário;
   - doenças do espectro da esclerodermia, incluindo doentes com fenómeno de Raynaud e telangiectasias, esclerodermia limitada e esclerodermia difusa. Os anticorpos anti - centrossoma e anti - centríolo ocorrem em aproximadamente 0,4 a 5% dos doentes, e podem anteceder o diagnóstico clínico de esclerodermia em vários anos;
   - conectivite indiferenciada;
   - casos de hipertiroidismo que desenvolvem posteriormente fenómeno de Raynaud e telangiectasias;
   - doenças infecciosas (viroses)

    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - centríolo. Estrutura punctiforme fluorescente em cada um dos pólos do fuso (célula em metafase) e uma ou duas estruturas punctiformes fluorescentes no citoplasma (células em interfase)


    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - centríolo

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centríolo


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centríolo



    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centríolo

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centríolo

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centríolo

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - centríolo

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - centríolo

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Anticorpos anti - endomísio

A doença celíaca é uma das doenças crónicas mais comuns, com uma prevalência de 1% na população geral, que poderá ser superior nalguns países desenvolvidos.
Caracteriza-se clinicamente por malabsorção intestinal após a ingestão de glúten e, histologicamente, por atrofia das vilosidades da mucosa do intestino delgado. Estas alterações da mucosa revertem favoravelmente quando se elimina o glúten da dieta.

A ingestão de glúten (fracção proteica do trigo, cevada e centeio) é o principal factor ambiental desencadeante da doença. A concentração elevada de glutamina e prolina no glúten implica uma digestão parcial destes constituintes, sendo os resíduos parcialmente digeridos que, nos indivíduos geneticamente susceptíveis, desencadeiam os processos imunológicos relacionados com a doença.
Existe uma forte associação entre a presença dos haplótipos HLA-DQ2 e HLA-DQ8 e a doença celíaca (97% dos casos). No entanto, é muito importante realçar que cerca de 30-40% da população geral apresenta o haplótipo HLA-DQ2, pelo que a presença destes genes HLA, embora necessária, não é suficiente para o desenvolvimento da doença. Também estão envolvidos genes não - HLA.
Actualmente, decorrem diversos estudos em que se pretende avaliar a importância dos microrganismos intestinais na patogénese da doença.

O processo imunológico na doença celíaca caracteriza-se por uma resposta T-helper glúten - específica, com produção de interferão gama.
A transglutaminase tecidular é fundamental no desencadear deste processo, ao converter a glutamina da gliadina em ácido glutâmico. O consequente aumento da carga negativa vai implicar uma ligação mais forte à molécula HLA-DQ2, na superfície das células de apresentação de antigénios, com resposta celular (linfócitos B e T - glúten específicos), e produção de anticorpos anti - transglutaminase tecidular (muito importantes para o diagnóstico da doença).

As manifestações clínicas, intestinais e extra - intestinais, são muito variáveis. Nos adultos, a doença celíaca é assintomática ou com sintomatologia mínima, levando a um subdiagnóstico. A maioria dos casos de doença celíaca surge durante a infância, com um quadro clínico clássico de diarreia com esteatorreia, vómitos e dor abdominal, após a introdução dos cereais na dieta.
Podem ocorrer situações em que os indivíduos, embora assintomáticos, apresentam serologia e alterações histológicas na biópsia intestinal características da doença. Outros pacientes poderão apresentar sintomatologia e serologia de doença celíaca, sem alterações histológicas do intestino.

Recentemente, a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica propôs que a doença celíaca fosse definida como uma "doença sistémica autoimune, desencadeada pelo glúten e prolaminas relacionadas, num indivíduo geneticamente susceptível, e caracterizada por diversas associações de manifestações glúten - dependentes, anticorpos específicos da doença, haplótipos HLA-DQ2 ou HLA-DQ8, e enteropatia".

A serologia da doença celíaca (anticorpos anti - endomísio, anti - transglutaminase e anti - gliadinas deaminadas) é importante no diagnóstico e na monitorização desta patologia. Os anticorpos presentes são, geralmente, da classe IgA, embora também possam ser da classe IgG (particularmente nos indivíduos com déficit de IgA).
Os anticorpos anti - transglutaminase e os anticorpos anti - gliadina deaminada são os marcadores serológicos mais sensíveis e específicos da doença.

 A pesquisa dos anticorpos anti - endomísio é efectuada por imunofluorescência indirecta, utilizando cortes de esófago de primata. Os anticorpos ligam-se ao tecido conjuntivo que rodeia o músculo liso, originando um padrão característico, com fluorescência do músculo liso vascular, da muscularis mucosae e da camada muscular. 
A sua sensibilidade e especificidade são de, aproximadamente 90% e 100%.
O título de anticorpos anti - endomísio, nos doentes submetidos a dieta sem glúten, diminui ao longo do tempo, pelo que uma serologia negativa não deve excluir a doença celíaca.


    Esófago (x100). Estrutura da parede esofágica.

    Anticorpos anti - endomísio (x100). Fluorescência característica na muscular da mucosa e na muscular.

    Anticorpos anti - endomísio (x100)

    Anticorpos anti - endomísio (x100). Camada muscular (1 - circular interna; 2 - longitudinal externa)

    Anticorpos anti - endomísio (x400). Muscular da mucosa. Observa-se a fluorescência do endomísio,
    envolvendo cada fibra muscular. Ausência de fluorescência nas fibras.

    Anticorpos anti - endomísio (x400). Fluorescência do endomísio na camada muscular.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Anticorpos anti - Mi-2

A proteína Mi-2 é o componente principal do complexo responsável pela remodelação do nucleosoma (nucleosome remodeling-deacetylase -NuRD complex).

Por imunofluorescência indirecta, utilizando como substrato as células Hep-2, os anticorpos anti-Mi-2 produzem um padrão nuclear mosqueado fino, com ausência de fluorescência nas regiões de condensação cromossómica. Nas células em interfase, não ocorre fluorescência dos nucléolos.

Os anticorpos anti - Mi-2 ocorrem em aproximadamente15 - 35% (adultos) e em 10 - 15% (forma juvenil) dos doentes com dermatomiosite, sendo um marcador precoce no diagnóstico e tendo um elevado valor predictivo positivo para a doença. 
No diagnóstico da miosite autoimune, apresentam uma sensibilidade de 4 - 18% e uma especificidade de 98 - 100%.
Associam-se à forma leve da doença e a uma boa resposta à terapêutica. É rara a associação com sinovite, lesão pulmonar ou fenómeno de Raynaud.
Também podem ocorrer nas formas clínicas menos graves de lúpus, sendo rara a sua ocorrência em doentes com polimiosite.


    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - Mi-2. Padrão nuclear mosqueado fino, com ausência de fluorescência   
    nas regiões de condensação cromossómica. Ausência de fluorescência dos nucléolos nas células em    
    interfase.

    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - Mi-2.


    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - Mi-2.


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Mi-2.

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Mi-2.
    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Mi-2.

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Mi-2.
   
    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - Mi-2.


     Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - Mi-2.


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - Mi-2.


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - Mi-2.


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - Mi-2.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Anticorpos anti - Membrana basal glomerular

O glomérulo renal é uma estrutura presente no córtex renal constituído por um conjunto de ansas capilares, revestidas pelas células do folheto visceral da cápsula de Bowman (podócitos). Entre as células do folheto parietal da cápsula de Bowman e o folheto visceral, localiza-se o espaço capsular de Bowman.
O glomérulo é parte integrante do corpúsculo renal, no qual consideramos dois pólos: vascular (arteríolas aferente e eferente) e urinário (continuação do espaço capsular de Bowman com o tubo contornado proximal).
Os capilares das ansas glomerulares são de tipo fenestrado, estando as células endoteliais assentes sobre uma membrana basal (membrana basal glomerular – MBG).
O colagéneo IV é um componente típico e específico da MBG, formando  uma matriz onde são integradas as outras moléculas (laminina, proteoglicanos, fibronectina).

O síndrome de Goodpasture caracteriza-se por um quadro de glomerulonefrite (frequentemente com insuficiência renal precoce), hemorragia pulmonar e, menos frequentemente, hemosiderose  pulmonar, com presença, no sangue, de autoanticorpos
que se ligam à extremidade carboxil do pró - colagéneo IV da membrana basal (normalmente não expostos à superfície).
A glomerulonefrite por anticorpos anti – membrana basal glomerular e o síndrome de Goodpasture ocorrem mais frequentemente no sexo masculino, entre os 20 e os 40 anos de idade, e, em ambos os sexos, acima dos 50 anos. A glomerulonefrite isolada (sem envolvimento pulmonar), é mais frequente no sexo feminino, acima dos 50 anos.

A pesquisa dos auto-anticorpos pode ser realizada por imunofluorescência indirecta, utilizando cortes de rim. É essencial a utilização de rim de primata, uma vez que os anticorpos não reconhecem os epítopos da membrana basal glomerular de outras espécies. Para garantir a exposição dos epítopos e a ligação dos anticorpos, é necessário tratar o corte do tecido renal com ureia.

Resultados positivos são compatíveis com síndrome de Goodpasture. No entanto, é possível a ocorrência de positividade fraca noutras doenças autoimunes, pelo que o diagnóstico deve ser sempre confirmado por biopsia renal ou pulmonar.


    Rim (x100) - Observa-se fluorescência da membrana basal glomerular. Note-se a ausência de   
    fluorescência nos túbulos renais


    Rim (x100) - Membrana basal glomerular

    Rim (x100) - Membrana basal glomerular

    Rim (x400) - Membrana basal glomerular

    Rim (x400) - Membrana basal glomerular


    Rim (x400) - Membrana basal glomerular

terça-feira, 16 de abril de 2013

Anticorpos anti - Ku

Anticorpos anti - antigénio nuclear, não histona, localizado nos nucléolos da maioria das células. O antigénio Ku é um heterodímero composto por duas subunidades de 70 kD (Ku 70) e 80 kD (Ku 80), associado a uma proteína de aproximadamente 460 kD, com actividade de quinase.
O antigénio Ku é fundamental para a união das extremidades de cadeias ADN não homólogas. Esta via previne a morte celular ou as mutações causadas por roturas de ADN bicatenário.
A prevalência dos anticorpos anti - Ku é muito superior nos indíviduos afro - americanos com lúpus, relativamente aos caucasianos.
A presença de anticorpos anti - Ku associa-se a um padrão de fluorescência nuclear homogéneo ou granular denso, com nucléolos positivos.
Estes autoanticorpos surgem nos doentes com Síndrome de Sjögren primário (>20%), com lúpus (6%) - sobretudo em população japonesa, com cirrose biliar primária (33%), com miosite (1-7%) e com artrite reumatóide (1%).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku. Padrão de fluorescência nuclear homogéneo ou granular denso, com nucléolos positivos.

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku


domingo, 14 de abril de 2013

Anticorpos anti - Sm e anti - RNP

Os antigénios RNP e Sm estão associados a partículas ribonucleoproteicas constituídas por ácidos ribonucleicos (ARN) de pequeno tamanho, ricos em uridina (UsnRNP).
Os antigénios U1-RNP e Sm estão intimamente relacionados entre si, coexistindo frequentemente no mesmo soro. Sendo frequente a associação entre os dois auto-anticorpos, os anticorpos anti-U1-RNP identificam-se geralmente isolados (sem presença anticorpos anti-Sm).

Os anticorpos anti-U1-RNP reagem com um polipéptido de 70 kD e com as proteínas A (33 kD) e C (22 kD), localizados nas zonas funcionais da partícula U1-ARN. O polipéptido de 70 kD é uma proteína da matriz nuclear directamente relacionada com a partícula U1 - snRNP.
Foram detectados anticorpos anti - U1 - RNP nos glomérulos de pacientes com nefropatia lúpica, sugerindo a sua importância e contribuição para a lesão tecidular.

A presença de anticorpos anti - U1 - RNP e anti - Sm origina um padrão de fluorescência nuclear mosqueado denso (células Hep-2). A fluorescência das granulações correspondente aos componentes do spliceossoma sobrepõe-se a uma fluorescência nuclear difusa, com ausência de marcação dos nucléolos.

Os anticorpos anti - Sm são muito específicos de lúpus (99%), ocorrendo em 3 - 40% dos doentes (com maior frequência nos doentes de raça negra e asiáticos). Podem ser marcadores precoces da doença.
O aumento do título de anticorpos anti - Sm pode preceder uma exacerbação da doença, independentemente das variações do título de anticorpos anti - dsDNA.
Noutras patologias, a presença de anticorpos anti - Sm é rara, pelo que a sua identificação deve fazer suspeitar da existência de um síndrome de sobreposição com o lúpus.

Os anticorpos anti - U1 - RNP são característicos da doença mista do tecido conjuntiva (DMTC), sendo a sua frequência variável e dependente da metodologia utilizada na sua detecção e dos critérios de definição da doença. São mais frequentes nos doentes de raça negra que nos doentes caucasianos.
Na maioria dos doentes, o título de anticorpos é constante, sendo a sua quantificação pouco útil na prática clínica.


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP). Observa-se fluorescência de aspecto mosqueado, com presença de grânulos grosseiros irregulares. 


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).