Ana Isabel Fazendeiro, Graciete Costa, Natália Couceiro, Paula Rodrigues, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Anticorpos anti - Membrana basal glomerular

O glomérulo renal é uma estrutura presente no córtex renal constituído por um conjunto de ansas capilares, revestidas pelas células do folheto visceral da cápsula de Bowman (podócitos). Entre as células do folheto parietal da cápsula de Bowman e o folheto visceral, localiza-se o espaço capsular de Bowman.
O glomérulo é parte integrante do corpúsculo renal, no qual consideramos dois pólos: vascular (arteríolas aferente e eferente) e urinário (continuação do espaço capsular de Bowman com o tubo contornado proximal).
Os capilares das ansas glomerulares são de tipo fenestrado, estando as células endoteliais assentes sobre uma membrana basal (membrana basal glomerular – MBG).
O colagéneo IV é um componente típico e específico da MBG, formando  uma matriz onde são integradas as outras moléculas (laminina, proteoglicanos, fibronectina).

O síndrome de Goodpasture caracteriza-se por um quadro de glomerulonefrite (frequentemente com insuficiência renal precoce), hemorragia pulmonar e, menos frequentemente, hemosiderose  pulmonar, com presença, no sangue, de autoanticorpos
que se ligam à extremidade carboxil do pró - colagéneo IV da membrana basal (normalmente não expostos à superfície).
A glomerulonefrite por anticorpos anti – membrana basal glomerular e o síndrome de Goodpasture ocorrem mais frequentemente no sexo masculino, entre os 20 e os 40 anos de idade, e, em ambos os sexos, acima dos 50 anos. A glomerulonefrite isolada (sem envolvimento pulmonar), é mais frequente no sexo feminino, acima dos 50 anos.

A pesquisa dos auto-anticorpos pode ser realizada por imunofluorescência indirecta, utilizando cortes de rim. É essencial a utilização de rim de primata, uma vez que os anticorpos não reconhecem os epítopos da membrana basal glomerular de outras espécies. Para garantir a exposição dos epítopos e a ligação dos anticorpos, é necessário tratar o corte do tecido renal com ureia.

Resultados positivos são compatíveis com síndrome de Goodpasture. No entanto, é possível a ocorrência de positividade fraca noutras doenças autoimunes, pelo que o diagnóstico deve ser sempre confirmado por biopsia renal ou pulmonar.


    Rim (x100) - Observa-se fluorescência da membrana basal glomerular. Note-se a ausência de   
    fluorescência nos túbulos renais


    Rim (x100) - Membrana basal glomerular

    Rim (x100) - Membrana basal glomerular

    Rim (x400) - Membrana basal glomerular

    Rim (x400) - Membrana basal glomerular


    Rim (x400) - Membrana basal glomerular

terça-feira, 16 de abril de 2013

Anticorpos anti - Ku

Anticorpos anti - antigénio nuclear, não histona, localizado nos nucléolos da maioria das células. O antigénio Ku é um heterodímero composto por duas subunidades de 70 kD (Ku 70) e 80 kD (Ku 80), associado a uma proteína de aproximadamente 460 kD, com actividade de quinase.
O antigénio Ku é fundamental para a união das extremidades de cadeias ADN não homólogas. Esta via previne a morte celular ou as mutações causadas por roturas de ADN bicatenário.
A prevalência dos anticorpos anti - Ku é muito superior nos indíviduos afro - americanos com lúpus, relativamente aos caucasianos.
A presença de anticorpos anti - Ku associa-se a um padrão de fluorescência nuclear homogéneo ou granular denso, com nucléolos positivos.
Estes autoanticorpos surgem nos doentes com Síndrome de Sjögren primário (>20%), com lúpus (6%) - sobretudo em população japonesa, com cirrose biliar primária (33%), com miosite (1-7%) e com artrite reumatóide (1%).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku. Padrão de fluorescência nuclear homogéneo ou granular denso, com nucléolos positivos.

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - Ku


domingo, 14 de abril de 2013

Anticorpos anti - Sm e anti - RNP

Os antigénios RNP e Sm estão associados a partículas ribonucleoproteicas constituídas por ácidos ribonucleicos (ARN) de pequeno tamanho, ricos em uridina (UsnRNP).
Os antigénios U1-RNP e Sm estão intimamente relacionados entre si, coexistindo frequentemente no mesmo soro. Sendo frequente a associação entre os dois auto-anticorpos, os anticorpos anti-U1-RNP identificam-se geralmente isolados (sem presença anticorpos anti-Sm).

Os anticorpos anti-U1-RNP reagem com um polipéptido de 70 kD e com as proteínas A (33 kD) e C (22 kD), localizados nas zonas funcionais da partícula U1-ARN. O polipéptido de 70 kD é uma proteína da matriz nuclear directamente relacionada com a partícula U1 - snRNP.
Foram detectados anticorpos anti - U1 - RNP nos glomérulos de pacientes com nefropatia lúpica, sugerindo a sua importância e contribuição para a lesão tecidular.

A presença de anticorpos anti - U1 - RNP e anti - Sm origina um padrão de fluorescência nuclear mosqueado denso (células Hep-2). A fluorescência das granulações correspondente aos componentes do spliceossoma sobrepõe-se a uma fluorescência nuclear difusa, com ausência de marcação dos nucléolos.

Os anticorpos anti - Sm são muito específicos de lúpus (99%), ocorrendo em 3 - 40% dos doentes (com maior frequência nos doentes de raça negra e asiáticos). Podem ser marcadores precoces da doença.
O aumento do título de anticorpos anti - Sm pode preceder uma exacerbação da doença, independentemente das variações do título de anticorpos anti - dsDNA.
Noutras patologias, a presença de anticorpos anti - Sm é rara, pelo que a sua identificação deve fazer suspeitar da existência de um síndrome de sobreposição com o lúpus.

Os anticorpos anti - U1 - RNP são característicos da doença mista do tecido conjuntiva (DMTC), sendo a sua frequência variável e dependente da metodologia utilizada na sua detecção e dos critérios de definição da doença. São mais frequentes nos doentes de raça negra que nos doentes caucasianos.
Na maioria dos doentes, o título de anticorpos é constante, sendo a sua quantificação pouco útil na prática clínica.


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP). Observa-se fluorescência de aspecto mosqueado, com presença de grânulos grosseiros irregulares. 


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP).


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - RNP (U1- snRNP) e anti - RNP (U1 - U6 snRNP).

Anticorpos anti - SSA (Ro) e anti - SSB (La)

Anticorpos anti - SSA (Ro)

O antigénio Ro/SS-A é constituído por proteínas (hY1, hY3, hY4 e hY5) associadas a ácidos ribonucleicos (ARN) ricos em uridina, designadas por hY1, hY3, hY4, hY5 (hY = human cytoplasmic). 
A proteína principal tem um peso molecular de 60 kD, tendo sido também identificada uma proteína estrutural e antigenicamente diferente, com um peso molecular de 52 kD.
A proteína Ro 60 kD, que contém uma sequência de 80 aminoácidos (comum às proteínas que se unem ao ARN), interage directamente com as hY - ARN. A proteína Ro 52 Kd não contém a sequência de união aos ARN, não interagindo com a partícula Ro-RNP.
O antigénio Ro 60 kD participa provavelmente na regulação do ARN mensageiro, na tradução e transcrição do ARN, sendo desconhecida a função biológica da proteína Ro 52 kD.

Os anticorpos anti - Ro / SSA e anti - La / SSB coexistem frequentemente. Os pacientes que apresentam anticorpos anti - La / SSB também apresentam anticorpos anti - Ro / SSA, enquanto que apenas 50% dos pacientes com anticorpos anti - Ro / SSA apresentam também anticorpos anti - La / SSB. Os epítopos que determinam a reactividade dos anticorpos localizam-se nas proteínas e não nos ARN.

A maioria dos pacientes que apresentam anticorpos anti - Ro 52 kD apresenta simultaneamente anticorpos anti - Ro 60 kD, sugerindo uma relação na produção de ambos os autoanticorpos.

Anticorpos anti - SSB (La)

O antigénio La - SS-B é uma fosfoproteína de 48kD associada ao ARN rico em uridina, sensível à degradação proteolítica.
Não partilha epítopos com as proteínas Ro, sendo diferentes os genes que codificam ambas as proteínas.
O antigénio La - SS-B participa no processamento dos ARN, sendo essencial no processo de finalização da transcrição pela RNA polimerase III.
A sua localização nuclear e citoplasmática é um reflexo do processo de maturação e transporte de alguns dos ARN celulares.
Inicialmente, os auto-anticorpos ligam-se ao epítopo localizado na região aminoterminal; posteriormente, a ligação estende-se às regiões intermédia e carboxiterminal.
Sugere-se que os anticorpos anti - SSB presentes nos pacientes com lúpus reconhecem epítopos diferentes relativamente aos anticorpos anti - SSB presentes nos pacientes com SS primário.


Os anticorpos anti - Ro / SSA e anti - La / SSB detectam-se por imunofluorescência indirecta (I.F.I.) em células Hep2, podendo observar-se um padrão de de fluorescência nuclear granular fino, por vezes com algumas granulações mais evidentes, com ou sem evidência ténue dos nucléolos, sendo por vezes possível também observar um discreto padrão de fluorescência granular fino de localização citoplasmática.
Alguns dos anticorpos anti - SS-A são de avidez baixa e unicamente detectados por imunoensaio enzimático (ELISA), método mais sensível que a contraimunoelectroforese  ou a imunoprecipitação.

Os anticorpos anti - SS-A e os anticorpos anti - SS-B participam directamente no desenvolvimento das lesões ou, indirectamente, através da formação de imunocomplexos depositados ou formados nos tecidos afectados. Estes autoanticorpos têm a capacidade para fixar o complemento.

Os anticorpos anti - SSA podem ser os responsáveis pelo desenvolvimento das lesões do lúpus eritematoso cutâneo e das lesões cutâneas fotossensíveis no lúpus eritematoso sistémico. A radiação UV aumenta a expressão do antigénio SS-A na superfície dos queratócitos.

A concentração dos anticorpos não tem relação com a actividade da doença.

Os anticorpos anti - SSA ocorrem em:

  • aproximadamente 40 - 90% dos doentes com Síndrome de Sjögren (SS). Nos doentes com Síndrome de Sjögren primário, ocorrem em 60 - 75% dos casos, sendo a percentagem superior nos doentes em que o síndrome é secundário a lúpus, artrite reumatóide, polimiosite - dermatomiosite e cirrose biliar primária. A sua concentração é superior nos pacientes com SS primário, relativamente aos pacientes com lúpus ou artrite reumatóide. No SS primário, associam-se com um início mais precoce da doença e uma evolução mais prolongada, bem como com manifestações extra-glandulares. 
  • aproximadamente 40 - 60% dos doente com lúpus. Os doentes em que ocorre associação de anticorpos anti - SS-A e anticorpos anti - SS-B apresentam um risco menor de nefropatia lúpica e têm um bom prognóstico relativamente aos doentes sem que não existe associação;
  • Mais de 90% dos casos de lúpus neonatal. Esta forma de lúpus relaciona-se com a passagem transplacentar de anticorpos IgG, da mãe para o feto, caracterizando-se por bloqueio auriculo - ventricular congénito, prolongamento de QT, dermatite fotosensível, trombocitopenia e hepatite. O risco de aparecimento deste síndrome aumenta em gestações posteriores. Existe uma associação entre o risco de lúpus neonatal e a ocorrência de anticorpos anti - SS-A e anti - SS-B, com especificidade para o antigénio de 52kD.
         A maioria das mães de recém - nascidos com lúpus neonatal, com ou sem bloqueio auriculo -    
         ventricular, apresentam anticorpos anti - SS-A, mesmo quando assintomáticas;
  • 2 - 12% dos casos de artrite reumatóide. A sua presença associa-se com síndrome de Sicca e outras manifestações extra - articulares, bem como com uma pior resposta à terapêutica imunossupressora, obrigando à administração de doses mais elevadas;
  • 3 - 29% dos casos de esclerodermia. A sua presença associa-se com evolução grave e progressiva da doença (manifestações pulmonares e renais);
  • Na cirrose biliar primária, os anticorpos anti - SS-A de 60 kD ocorrem em 30% dos casos, enquanto os anticorpos anti - SS-A de 52 kD ocorrem em 25% dos casos, com associação a síndrome seco, hipertensão pulmonar e portal.

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - SSA/Ro. Padrão de fluorescência granular fino, com múltiplos grânulos isolados.

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - SSA/Ro

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - SSA/Ro

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - SSA/Ro 

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - SSA/Ro

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - SSA/Ro
                                                                                                          

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - SSA (Ro) e anti - SSB (La). Padrão de fluorescência granular fino, com evidência ténue dos nucléolos (setas)
   
    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - SSA (Ro) e anti - SSB (La).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - SSA (Ro) e anti - SSB (La).

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - SSA (Ro) e anti - SSB (La).