Ana Isabel Fazendeiro, Graciete Costa, Natália Couceiro, Paula Rodrigues, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Anticorpos anti - células parietais gástricas

A Gastrite autoimune distingue-se laboratorialmente pela presença de anticorpos anti - células parietais gástricas (APCA). Estes auto-anticorpos  presentes em, aproximadamente, 100% dos doentes com gastrite autoimune e 90% dos doentes com anemia perniciosa, têm elevada sensibilidade mas baixa especificidade no diagnóstico de Anemia Perniciosa.
Os antigénios alvo destes anticorpos são as subunidades alfa e beta da bomba de protões H+/K+ ATPase (92 e 60-90 kDa, respectivamente), situada na membrana das células parietais.

O factor intrínseco é uma proteína sintetizada nas células parietais da mucosa gástrica. Em condições fisiológicas, liga-se à vitamina B12, sendo fundamental para a sua absorção no íleon terminal. A destruição da mucosa gástrica que ocorre na gastrite auto-imune, origina uma diminuição da síntese de factor intrínseco e, consequentemente, uma diminuição da absorção de vitamina B12.

Apenas uma pequena percentagem (10-15%) dos doentes com gastrite auto-imune desenvolve anemia perniciosa na fase terminal da doença, como consequência da diminuição da absorção de vitamina B12.
Existem diversas evidências que sugerem uma predisposição genética para a anemia perniciosa: ocorrência familiar da patologia, presença de anticorpos circulantes anti - células parietais gástricas e de gastrite atrófica do tipo A em 20 a 30% dos familiares dos doentes. No entanto, a presença destes autoanticorpos também é bastante frequente em membros da mesma família  que não apresentam doença, bem como em outras patologias autoimunes, sugerindo que, por si só, não são causadores da doença.

A presença de anticorpos anti - células parietais gástricas pode anteceder o aparecimento da anemia perniciosa e da gastrite autoimune em vários anos (20 a 30 anos). A sua pesquisa e identificação tem utilidade no rastreio pré - clínico, embora nem todos os indivíduos com anticorpos anti - células parietais gástricas venham a desenvolver anemia perniciosa.
Estes autoanticorpos têm uma prevalência de 2-5% na população geral, aumentando a sua frequência com a idade. Ocorrem em cerca de 20 a 30% dos doentes com outras patologias autoimunes (tiroidite autoimune, diabetes mellitus e insuficiência suprarenal).

A pesquisa e identificação de anticorpos anti - células parietais gástricas são realizadas por imunofluorescência indirecta (I.F.I), utilizando como substrato cortes de estômago de rato. A fluorescência é granular densa, localizada exclusivamente no citoplasma das células parietais gástricas, mais intensa no pólo apical da célula (localização da bomba de protões H+/K+ ATPase).



    Estômago e Rim (x100) - Anticorpos anti - células parietais gástricas.


    Estômago (x100) - Anticorpos anti - células parietais gástricas. Observa-se fluorescência intensa no citoplasma das células parietais gástricas. As células principais, a muscular da mucosa (1) e a submucosa (2) não apresentam fluorescência.


    Estômago (x400) -  anticorpos anti-células parietais gástricas. Observa-se  padrão de fluorescência citoplasmático, de aspecto granular denso , de maior intensidade no pólo apical de algumas células. Ausência de fluorescência nas outras células das glândulas gástricas.

O citoplasma das células parietais gástricas, rico em mitocôndrias, apresenta fluorescência intensa quando existem anticorpos anti - mitocondriais. Este padrão de fluorescência não deve ser confundido com o padrão associado à presença de anticorpos anti - células parietais gástricas. O diagnóstico diferencial entre os dois padrões de fluorescência é facilitado pela utilização do triplo substrato (estômago, rim e fígado)  na rotina laboratorial.

    Estômago e Rim (x100) - anticorpos anti-mitocondriais.


    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático granular, de distribuição uniforme. Presença de fluorescência granular de fraca intensidade nas outras células das glândulas gástricas.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Anticorpos anti - LKM1

Os anticorpos anti – LKM (liver kidney microsomes) são um grupo heterogéneo de anticorpos que se ligam a estruturas do citoplasma dos hepatócitos e das células dos túbulos contornados principais, originando, por imunofluorescência indirecta (I.F.I.), padrões característicos. Consideram-se, actualmente, quatro tipos de anticorpos anti – LKM (LKM-1, LKM-2, LKM-3 e um quarto tipo que tem como antigénios alvo o CYP1A2 e o CYP2A6). Os anticorpos anti – LKM1 (antigénio alvo – citocromo P450 2D6, CYP2D6) são considerados específicos da hepatite autoimune do tipo II, não existindo correlação entre a concentração de anticorpos e o grau de actividade da doença.
Também podem ocorrer nos doentes com hepatite C, e nas intoxicações por halotano e dehidralazina.

Mais rara que a hepatite autoimune do tipo I, a hepatite autoimune do tipo II (HAI-II) é mais frequente no sexo feminino e, embora possa ocorrer em qualquer idade, tem um pico de frequência entre os 2 e os 14 anos. O quadro clínico inicial é, habitualmente, o de uma insuficiência hepática aguda.

A I.F.I. permite a pesquisa e detecção dos anticorpos anti – LKM1, utilizando, como substrato, cortes de estômago, fígado e rim de rato. O padrão de fluorescência é muito típico, com coloração intensa do fígado e rim.

Fígado – fluorescência   intensa do citoplasma de todos os hepatócitos. A ausência de fluorescência dos núcleos origina o aspecto característico em "buraco negro".



   Fígado (x100)  - anticorpos anti-LKM1 - Observa-se fluorescência granular e homogénea do citoplasma dos hepatócitos, de distribuição uniforme.


    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1


    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1 - fluorescência granular do citoplasma dos hepatócitos. Ausência de fluorescência nos núcleos e no tecido conjuntivo.


    Fígado (x630) - anticorpos anti-LKM1 - pormenor dos hepatócitos adjacentes à veia centrolobular.



Rim – fluorescência intensa do citoplasma das células dos túbulos contornados proximais. Ausência de fluorescência do citoplasma das células dos túbulos contornados distais (contudo, em 10% dos anticorpos anti-LKM1 provenientes de doentes com HAI-II ou com Hepatite C, pode ocorrer fluorescência de fraca intensidade nos tubulos contornados distais).


Rim (x100) - anticorpos anti-LKM1 - observa-se fluorescência granular e homogénea  dos túbulos contornados proximais (1)


   Rim (x400) - anticorpos anti-LKM1  - pormenor dos túbulos renais, observando-se  fluorescência intensa do citoplasma das células dos túbulos contornados proximais (1).





Em aproximadamente 25% dos soros de doentes com HAI-II existe a associação de anticorpos anti-células parietais gástricas e anticorpos anti-LKM1.



    Estômago e Rim (x100) - Anticorpos anti-células parietais gástricas e anticorpos anti-LKM1 -
Observa-se fluorescência das células parietais gástricas (1) e dos túbulos contornados proximais (2), com ausência de fluorescência  dos túbulos contornados distais (3) e glomérulos (4)



Os padrões de fluorescência observados (imagem anterior) não devem ser confundidos com os padrões associados à presença de anticorpos anti-mitocondriais.




    Estômago e Rim (x100) - anticorpos anti-mitocondriais . Fluorescência intensa do citoplasma das células parietais gástricas e do citoplasma das células dos túbulos renais proximais (1) e distais (2). Nos glomérulos renais (3), observa-se uma fluorescência granular fina, de menor intensidade.


Nas imagens seguintes, procura-se realçar as  principais diferenças entre os padrões associados à presença de anticorpos anti-LKM1, anti-células parietais gástricas e anti-mitocondriais  , de modo a facilitar a sua diferenciação e identificação.

    Estômago (x400) -  anticorpos anti-células parietais gástricas. Observa-se  padrão de fluorescência citoplasmático, de aspecto denso e homogéneo, de maior intensidade no pólo apical de algumas células.

    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático granular, de distribuição uniforme.

    Rim (x400) - anticorpos anti-LKM1 . Ausência de fluorescência no glomérulo e nos túbulos contornados distais. No canto superior esquerdo, observa-se fluorescência intensa no citoplasma das células de um túbulo contornado proximal.

    Rim (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se fluorescência granular  em todos os túbulos, mais intensa nos túbulos contornados distais. No glomérulo renal, evidencia-se uma fluorescência de aspecto granular fino. 

    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1. Observa-se fluorescência intensa e homogénea no citoplasma de todos os hepatócitos. Ausência de fluorescência nos núcleos (aspecto em "buraco negro")

   Fígado (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se fluorescência granular no citoplasma dos hepatócitos. Relativamente à imagem anterior (anticorpos anti-LKM1), a fluorescência é menos intensa e de aspeto granular, e o limite dos núcleos não é bem definido.