Ana Isabel Fazendeiro, Graciete Costa, Natália Couceiro, Paula Rodrigues, Rosário Cunha, Fernando Rodrigues

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Anticorpos anti - Scl70


A Esclerodermia é uma doença do tecido conjuntivo que se caracteriza por fibrose da pele, com possível envolvimento de órgãos internos, tais como o pulmão, coração e rim, por lesão dos vasos sanguíneos e das células produtoras de colagéneo que os envolvem.
Predomina no sexo feminino, afectando cerca de 4 mulheres por cada homem.
Esta doença crónica divide-se em duas entidades clínicas diferentes: 

  • localizada, em que a doença se limita a uma determinada área da pele;
  • sistémica, com envolvimento da pele e de órgãos internos. A Esclerodermia sistémica, por sua vez, ainda é dividida em duas formas clínicas distintas (limitada e difusa), que diferem quanto à extensão de envolvimento dos órgãos, evolução e prognóstico da doença.
A forma limitada da Esclerose sistémica envolve a pele da face e da parte distal dos membros, associando-se normalmente ao fenómeno de Raynaud e à ocorrência de hipertensão pulmonar (15% dos doentes). A forma difusa ocorre com envolvimento da pele do tronco e da zona proximal dos membros, bem como do coração e dos rins; o envolvimento pulmonar é mais precoce, com evolução para fibrose pulmonar.

A topoisomerase - I é um enzima localizado no nucleoplasma e nos nucléolos, unido à histona H1 e ao ADN. Cataliza a separação, o alongamento, a replicação e a transcrição do ADN, sendo também importante na organização da cromatina e na transcrição de genes de RNA ribossómico.


Os anticorpos anti - topoisomerase - I, inicialmente identificados em doentes com Esclerodermia, foram designados por anticorpos anti - Scl70, por reconhecerem uma proteína de 70 kDa. Posteriormente, foram identificados outros auto - anticorpos, dirigidos a uma proteína de 86 kDa (Scl-86).
Actualmente aceita-se a designação de anticorpos anti - topoisomerase - I para os anticorpos anti - Scl 70 e anti - Scl 86 que reconhecem a topoisomerase - I uma proteína básica de 100 kDa associada à histona H1 e ao ADN.


Por imunofluorescência indirecta (IFI) e por microscopia electrónica, é possível localizar o antigénio nas regiões nucleolares NOR visíveis durante a mitose, sendo a topoisomerase - I estável ao longo do ciclo celular.

Não existe uma relação direta entre a concentração de anticorpos anti - topoisomerase - I e as manifestações clínicas da Esclerodermia. Contudo, a concentração de anticorpos anti - topoisomerase - I correlaciona-se positivamente com o grau de envolvimento cutâneo e com a resistência vascular renal, e, negativamente, com a capacidade vital pulmonar.
Sugere-se a sua especificidade para a Esclerodermia (98%), embora a sensibilidade seja baixa e variável com a metodologia utilizada (20-40%).
Estes auto - anticorpos são mais frequentes nos doentes com Esclerodermia difusa (40-75%), relativamente àqueles que apresentam a forma limitada (5-20%).
Nos doentes com a forma difusa da patologia, a presença destes auto - anticorpos associa-se a um maior risco de fibrose pulmonar.
De um modo geral, os doentes com anticorpos anti - topoisomerase - I têm pior prognóstico e menor taxa de sobrevivência do que os doentes  com anticorpos anti - centrómero.
A associação de anticorpos anti - topoisomerase - I e de anticorpos anti - centrómero é excepcional.
A identificação de anticorpos anti - topoisomerase - I em doentes com síndrome de Raynaud primário, sugere o desenvolvimento posterior de Esclerodermia.
Noutras doenças autoimunes, a prevalência destes auto - anticorpos é baixa (geralmente inferior a 10%), sugerindo-se que a sua identificação nestas situações se deve a síndromes de sobreposição com a Esclerodermia.

Os anticorpos anti - topoisomerase - I são identificados por imunofluorescência indirecta (I.F.I.), utilizando como substrato células Hep - 2. O padrão de fluorescência no nucleoplasma varia de mosqueado fino a homogéneo, com ou sem fluorescência nucleolar ponteada, e cromatina positiva nas células em mitose, com ponteado característico.

   Hep2 (x630) - Anticorpos anti - topoisomerase - I. Observa-se fluorescência homogénea no núcleo (1), ponteada nos nucléolos (2) e  na cromatina das células em mitose ponteado característico (3)


   Hep2 (x630) - Anticorpos anti - topoisomerase - I. Observa-se fluorescência homogénea no núcleo (1), ponteada nos nucléolos (2) e na cromatina das células em mitose (3)


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - topoisomerase - I. Aspecto característico, destacando-se a fluorescência ponteada nos nucléolos


    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - topoisomerase - I. Observa-se o aspecto característico da célula em mitose.






segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Anticorpos anti - Centrómero

A Esclerodermia é uma doença do tecido conjuntivo que se caracteriza por fibrose da pele, com possível envolvimento de órgãos internos (pulmão, coração e rim), por lesão dos vasos sanguíneos e das células produtoras de colagéneo que os envolvem.
Predomina no sexo feminino, afectando cerca de 4 mulheres por cada homem.
Esta doença crónica divide-se em duas entidades clínicas diferentes: 

  • localizada - em que a doença se limita a uma determinada área da pele;
  • sistémica - com envolvimento da pele e de órgãos internos. A Esclerodermia sistémica, por sua vez, ainda é dividida em duas formas clínicas distintas (limitada e difusa), que diferem quanto à extensão de envolvimento dos órgãos, evolução e prognóstico da doença.
A forma limitada da Esclerose sistémica envolve a pele da face e da parte distal dos membros, associando-se normalmente ao fenómeno de Raynaud e à ocorrência de hipertensão pulmonar (15% dos doentes). A forma difusa ocorre com envolvimento da pele do tronco e da zona proximal dos membros, bem como do coração e dos rins; o envolvimento pulmonar é mais precoce, com evolução para fibrose pulmonar.

Os anticorpos anti - centrómero são habitualmente identificados em doentes com a forma cutânea limitada da Esclerose Sistémica (80% dos doentes) e, mais raramente, na forma difusa (3-12%) desta patologia.
Aproximadamente 60 a 70% dos doentes com anticorpos anti - centrómero apresentam critérios de diagnóstico para a Esclerose Sistémica.
Os anticorpos anti - centrómero podem ser observados ocasionalmente noutras condições, nomeadamente na Artrite Reumatóide, no síndrome de Sjögren primário, no Lúpus Eritematoso Sistémico (2-5%), na Cirrose Biliar Primária, nas vasculites e na Hipertensão Pulmonar Primária. A sua identificação em doentes com Fenómeno de Raynaud, está associada com um aumento da probabilidade de futuro desenvolvimento de Esclerodermia Sistémica Limitada. Considera-se que os doentes com anticorpos anti - centrómero (e/ou Esclerose Sistémica Limitada) têm um risco acrescido de desenvolver hipertensão pulmonar, implicando uma maior vigilância.
Diversos estudos demonstram uma elevada especificidade dos anticorpos anti - centrómero para a Esclerose Sistémica (90% a 99.9%), sendo rara a sua identificação na ausência da patologia. No entanto, a sensibilidade é baixa (21.1% a 33%).
Não existe uma correlação entre o título de anticorpos anti - centrómero e o grau de actividade da doença, permanecendo os títulos estáveis ao longo do tempo.

Centrómero é o local de constrição primária dos cromossomas das células eucariotas durante a metáfase. A estrutura em forma de disco trilaminar na superfície do centrómero, designada por cinetocoro, é o local de ligação dos microtúbulos das células em divisão.
Embora os anticorpos anti - centrómero presentes nos soros de doentes com Esclerose Sistémica reconheçam diferentes polipeptídeos, existe uma associação fundamental com três proteínas centroméricas (CENP-A, de 19 kDa, CENP-B, de 80 kDa e CENP-C, de 140 kDa). Por vezes, podem ocorrer anticorpos dirigidos para outras proteínas centroméricas (CENP - D, E e F).




A detecção dos anticorpos anti - centrómero é efectuada por Imunofluorescência indirecta, utilizando como substrato as células Hep-2. O padrão de fluorescência é único e característico, com aspecto ponteado do núcleo e zona de condensação cromossómica positiva nas células em mitose.

    Hep2 (x400) - Anticorpos anti - centrómero.



  Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centrómero. Além do ponteado nuclear, observa-se o aspecto característico da mitose (1).

     Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - centrómero. Aspecto ponteado do núcleo.

    Hep2 (x1000) - Anticorpos anti - centrómero. Aspecto característico das células em mitose (1)

     Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centrómero e anticorpos anti - mitocondriais.

    Hep2 (x630) - Anticorpos anti - centrómero e anticorpos anti - mitocondriais.

    Hep2 (x630) - Padrão misto (homogéneo, centrómero e fuso mitótico).
    1 - Padrão homogéneo (além do ponteado característico do padrão centrómero,observa-se um fundo      
          homogéneo
    2 - Padrão centrómero
    3 - Padrão fuso mitótico




quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Anticorpos anti - células parietais gástricas

A Gastrite autoimune distingue-se laboratorialmente pela presença de anticorpos anti - células parietais gástricas (APCA). Estes auto-anticorpos  presentes em, aproximadamente, 100% dos doentes com gastrite autoimune e 90% dos doentes com anemia perniciosa, têm elevada sensibilidade mas baixa especificidade no diagnóstico de Anemia Perniciosa.
Os antigénios alvo destes anticorpos são as subunidades alfa e beta da bomba de protões H+/K+ ATPase (92 e 60-90 kDa, respectivamente), situada na membrana das células parietais.

O factor intrínseco é uma proteína sintetizada nas células parietais da mucosa gástrica. Em condições fisiológicas, liga-se à vitamina B12, sendo fundamental para a sua absorção no íleon terminal. A destruição da mucosa gástrica que ocorre na gastrite auto-imune, origina uma diminuição da síntese de factor intrínseco e, consequentemente, uma diminuição da absorção de vitamina B12.

Apenas uma pequena percentagem (10-15%) dos doentes com gastrite auto-imune desenvolve anemia perniciosa na fase terminal da doença, como consequência da diminuição da absorção de vitamina B12.
Existem diversas evidências que sugerem uma predisposição genética para a anemia perniciosa: ocorrência familiar da patologia, presença de anticorpos circulantes anti - células parietais gástricas e de gastrite atrófica do tipo A em 20 a 30% dos familiares dos doentes. No entanto, a presença destes autoanticorpos também é bastante frequente em membros da mesma família  que não apresentam doença, bem como em outras patologias autoimunes, sugerindo que, por si só, não são causadores da doença.

A presença de anticorpos anti - células parietais gástricas pode anteceder o aparecimento da anemia perniciosa e da gastrite autoimune em vários anos (20 a 30 anos). A sua pesquisa e identificação tem utilidade no rastreio pré - clínico, embora nem todos os indivíduos com anticorpos anti - células parietais gástricas venham a desenvolver anemia perniciosa.
Estes autoanticorpos têm uma prevalência de 2-5% na população geral, aumentando a sua frequência com a idade. Ocorrem em cerca de 20 a 30% dos doentes com outras patologias autoimunes (tiroidite autoimune, diabetes mellitus e insuficiência suprarenal).

A pesquisa e identificação de anticorpos anti - células parietais gástricas são realizadas por imunofluorescência indirecta (I.F.I), utilizando como substrato cortes de estômago de rato. A fluorescência é granular densa, localizada exclusivamente no citoplasma das células parietais gástricas, mais intensa no pólo apical da célula (localização da bomba de protões H+/K+ ATPase).



    Estômago e Rim (x100) - Anticorpos anti - células parietais gástricas.


    Estômago (x100) - Anticorpos anti - células parietais gástricas. Observa-se fluorescência intensa no citoplasma das células parietais gástricas. As células principais, a muscular da mucosa (1) e a submucosa (2) não apresentam fluorescência.


    Estômago (x400) -  anticorpos anti-células parietais gástricas. Observa-se  padrão de fluorescência citoplasmático, de aspecto granular denso , de maior intensidade no pólo apical de algumas células. Ausência de fluorescência nas outras células das glândulas gástricas.

O citoplasma das células parietais gástricas, rico em mitocôndrias, apresenta fluorescência intensa quando existem anticorpos anti - mitocondriais. Este padrão de fluorescência não deve ser confundido com o padrão associado à presença de anticorpos anti - células parietais gástricas. O diagnóstico diferencial entre os dois padrões de fluorescência é facilitado pela utilização do triplo substrato (estômago, rim e fígado)  na rotina laboratorial.

    Estômago e Rim (x100) - anticorpos anti-mitocondriais.


    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático granular, de distribuição uniforme. Presença de fluorescência granular de fraca intensidade nas outras células das glândulas gástricas.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Anticorpos anti - LKM1

Os anticorpos anti – LKM (liver kidney microsomes) são um grupo heterogéneo de anticorpos que se ligam a estruturas do citoplasma dos hepatócitos e das células dos túbulos contornados principais, originando, por imunofluorescência indirecta (I.F.I.), padrões característicos. Consideram-se, actualmente, quatro tipos de anticorpos anti – LKM (LKM-1, LKM-2, LKM-3 e um quarto tipo que tem como antigénios alvo o CYP1A2 e o CYP2A6). Os anticorpos anti – LKM1 (antigénio alvo – citocromo P450 2D6, CYP2D6) são considerados específicos da hepatite autoimune do tipo II, não existindo correlação entre a concentração de anticorpos e o grau de actividade da doença.
Também podem ocorrer nos doentes com hepatite C, e nas intoxicações por halotano e dehidralazina.

Mais rara que a hepatite autoimune do tipo I, a hepatite autoimune do tipo II (HAI-II) é mais frequente no sexo feminino e, embora possa ocorrer em qualquer idade, tem um pico de frequência entre os 2 e os 14 anos. O quadro clínico inicial é, habitualmente, o de uma insuficiência hepática aguda.

A I.F.I. permite a pesquisa e detecção dos anticorpos anti – LKM1, utilizando, como substrato, cortes de estômago, fígado e rim de rato. O padrão de fluorescência é muito típico, com coloração intensa do fígado e rim.

Fígado – fluorescência   intensa do citoplasma de todos os hepatócitos. A ausência de fluorescência dos núcleos origina o aspecto característico em "buraco negro".



   Fígado (x100)  - anticorpos anti-LKM1 - Observa-se fluorescência granular e homogénea do citoplasma dos hepatócitos, de distribuição uniforme.


    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1


    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1 - fluorescência granular do citoplasma dos hepatócitos. Ausência de fluorescência nos núcleos e no tecido conjuntivo.


    Fígado (x630) - anticorpos anti-LKM1 - pormenor dos hepatócitos adjacentes à veia centrolobular.



Rim – fluorescência intensa do citoplasma das células dos túbulos contornados proximais. Ausência de fluorescência do citoplasma das células dos túbulos contornados distais (contudo, em 10% dos anticorpos anti-LKM1 provenientes de doentes com HAI-II ou com Hepatite C, pode ocorrer fluorescência de fraca intensidade nos tubulos contornados distais).


Rim (x100) - anticorpos anti-LKM1 - observa-se fluorescência granular e homogénea  dos túbulos contornados proximais (1)


   Rim (x400) - anticorpos anti-LKM1  - pormenor dos túbulos renais, observando-se  fluorescência intensa do citoplasma das células dos túbulos contornados proximais (1).





Em aproximadamente 25% dos soros de doentes com HAI-II existe a associação de anticorpos anti-células parietais gástricas e anticorpos anti-LKM1.



    Estômago e Rim (x100) - Anticorpos anti-células parietais gástricas e anticorpos anti-LKM1 -
Observa-se fluorescência das células parietais gástricas (1) e dos túbulos contornados proximais (2), com ausência de fluorescência  dos túbulos contornados distais (3) e glomérulos (4)



Os padrões de fluorescência observados (imagem anterior) não devem ser confundidos com os padrões associados à presença de anticorpos anti-mitocondriais.




    Estômago e Rim (x100) - anticorpos anti-mitocondriais . Fluorescência intensa do citoplasma das células parietais gástricas e do citoplasma das células dos túbulos renais proximais (1) e distais (2). Nos glomérulos renais (3), observa-se uma fluorescência granular fina, de menor intensidade.


Nas imagens seguintes, procura-se realçar as  principais diferenças entre os padrões associados à presença de anticorpos anti-LKM1, anti-células parietais gástricas e anti-mitocondriais  , de modo a facilitar a sua diferenciação e identificação.

    Estômago (x400) -  anticorpos anti-células parietais gástricas. Observa-se  padrão de fluorescência citoplasmático, de aspecto denso e homogéneo, de maior intensidade no pólo apical de algumas células.

    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático granular, de distribuição uniforme.

    Rim (x400) - anticorpos anti-LKM1 . Ausência de fluorescência no glomérulo e nos túbulos contornados distais. No canto superior esquerdo, observa-se fluorescência intensa no citoplasma das células de um túbulo contornado proximal.

    Rim (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se fluorescência granular  em todos os túbulos, mais intensa nos túbulos contornados distais. No glomérulo renal, evidencia-se uma fluorescência de aspecto granular fino. 

    Fígado (x400) - anticorpos anti-LKM1. Observa-se fluorescência intensa e homogénea no citoplasma de todos os hepatócitos. Ausência de fluorescência nos núcleos (aspecto em "buraco negro")

   Fígado (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se fluorescência granular no citoplasma dos hepatócitos. Relativamente à imagem anterior (anticorpos anti-LKM1), a fluorescência é menos intensa e de aspeto granular, e o limite dos núcleos não é bem definido.




sexta-feira, 27 de julho de 2012

Anticorpos anti - mitocondriais

As mitocôndrias são pequenos organelos, com morfologia granular ou filamentosa, presentes no citoplasma das células eucariotas. Limitadas por duas membranas fosfolipídicas, as mitocôndrias contêm muitas enzimas, envolvidas na produção de energia.
Os anticorpos anti-mitocondriais (AMA) foram descritos pela primeira vez em pacientes com história de cirrose biliar primária (CBP) há mais de quarenta anos. Estes autoanticorpos são considerados os marcadores imunológicos mais sensíveis e específicos da doença, sendo a sua detecção praticamente diagnóstica, mesmo na ausência de sintomas e com fosfatase alcalina sérica normal (40% terão alterações histopatológicas hepáticas e, os restantes, terão maior probabilidade de desenvolver a doença nos próximos anos).
A reactividade dos AMA permitiu reconhecer nove antigénios mitocondriais (M1 a M9). Na CBP podem ocorrer anticorpos anti – M2, M4, M8 e M9; apenas os anticorpos anti – M2 são considerados específicos da doença:
·        AMA – M2 (anticorpos anti – complexo piruvato desidrogenase), que se encontram na maioria dos pacientes com AMA
·        AMA – M2-3E (anticorpos anti - subunidades E2 das alfa-2-oxoácido desidrogenases, localizadas na membrana mitocondrial interna)

A imunofluorescência indirecta (IFI) permite observar um padrão clássico de fluorescência, com marcação intensa no citoplasma das células ricas em mitocôndrias. Classicamente, utilizam-se como substrato, cortes de rim, estômago e fígado de rato e/ou células Hep2.


Células Hep2

      Células Hep2
 1 - Núcleo
    2 - Nucléolo
       3 - Citoplasma
4 - Mitose



Células Hep2 - Anticorpos anti - mitocondriais (M2)
Citoplasma  - padrão granular médio disperso

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)

Anticorpos anti - mitocondriais(M2) - IFI, células Hep2 (x630)


Tecidos (Estômago/Rim/Fígado)

Os anticorpos anti - mitocondriais originam padrões de fluorescência característicos, consequência da maior ou menor presença de mitocôndrias nas células.

Estômago

    Estômago (x400) - anticorpos anti-mitocondriais. Observa-se padrão de fluorescência citoplasmático    granular, de distribuição uniforme.

Rim
Rim - Córtex renal. Observa-se o glomérulo renal (posição central) e, em volta, os túbulos renais.

    Rim (x100) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência granular no citoplasma das células dos túbulos renais, mais intensa nos túbulos contornados distais.

    Rim (x630) - anticorpos anti - mitocondriais (túbulos renais)

    Rim (x630) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência pouco intensa no glomérulo renal, contrastando com a fluorescência granular das células dos túbulos renais


Fígado
    Fígado (x630) - Veia centrolobular. Observa-se, à volta da veia, os cordões de hepatócitos.

  Fígado (x100) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se fluorescência no citoplasma dos hepatócitos

    Fígado (x400) - anticorpos anti - mitocondriais. Observa-se uma fluorescência granular no citoplasma dos hepatócitos

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Anticorpos anti - Actina

A Actina é uma proteína de forma globular que compõe os microfilamentos (um dos três componentes principais do citoesqueleto das células eucariotas). Os microfilamentos conferem uma estrutura e forma à célula, sendo a sua formação um processo dinâmico que permite uma adaptação rápida às alterações do ambiente, nomeadamente através do aumento da superfície de absorção da célula ou fornecendo suporte para a sua adesão na formação de tecidos.

A actina encontra-se como monómeros livres, designados por actina G, ou como parte de polímeros lineares denominados actina F, essenciais em funções celulares como a mobilidade e contração durante a divisão celular.
Existem diversas isoformas de actina (consequência de alterações na sequência de aminoácidos constituintes), com distribuição distinta nos diversos tipos de tecido muscular e nas células não musculares:
  • isoforma α1 - músculo esquelético
  • isoforma α2 - músculo cardíaco
  • isoforma ß - músculo liso
  • isoforma γ - células não musculares
Na camada muscular dos vasos sanguíneos, existem as isoformas α e ß de actina.

Os anticorpos anti-músculo liso, com especificidade anti F-actina, são considerados marcadores de Hepatite Auto Imune Tipo I.
A pesquisa destes anticorpos é efectuada em cortes de estômago, rim e fígado de rato, sendo a diluição inicial do soro de 1:20
Quando presentes, originam aspectos de imunofluorescência característicos:

Estômago 


Estrutura histológica do estômago:
1 - Mucosa
2 - Muscularis mucosae
3 - Submucosa
4 - Camada muscular
5 - Projecções da muscularis na mucosa

Estômago (anticorpos anti - músculo liso) – fluorescência intensa da muscularis mucosae , das fibras da lâmina própria e da camada muscular.

Rim 


Estrutura histológica do córtex renal:
1 - Glomérulo renal
2 - Vasos sanguíneos
3 - Túbulos renais

Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência nos glomérulos renais e vasos sanguíneos. Fluorescência muito característica do espaço péritubular (aspecto em espinhos). 



Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência no glomérulo renal (G). Fluorescência muito característica do espaço peritubular  (aspecto em espinhos). Observam-se, além do glomérulo, os túbulos renais (T).



Rim (anticorpos anti - músculo liso) - fluorescência  peritubular  (aspecto em espinhos), assinalada pelas setas. Observa-se ainda fluorescência dos núcleos.

Fígado


Fígado - aspecto histológico. Observa-se a veia centrolobular, os cordóes de hepatócitos e, no lado esquerdo da imagem (em baixo), parte de um espaço porta.


Fígado - pormenor da veia centrolobular



Fígado (Espaço porta) - pequena ampliação
A - artéria
C - canal
V - veia

Fígado (anticorpos anti - músculo liso) – fluorescência intensa dos vasos do espaço porta, e da membrana dos hepatócitos (este último aspecto depende do título de anticorpos).



Nos três tecidos, sempre que existam anticorpos anti - músculo liso, também é característica a fluorescência da túnica média (muscular) dos vasos sanguíneos.


Vaso sanguíneo (artéria) com fluorescência na túnica média (muscular). Observa-se ainda a túnica intíma (endotélio) e a limitante elástica interna (linha escura ondulada, assinalada pela seta)




A identificação dos anticorpos anti - músculo liso (especificidade anti - F actina) por imunofluorescência é efectuada em células Hep2 ou células de aorta de rato (VCM47®). Os filamentos de actina são longos e rectilíneos, estendendo-se de um extremo ao outro da célula, passando sobre o núcleo.




Anticorpos anti - músculo liso (especificidade F - actina) - imagens de células de aorta de rato (VCM47®)